Sempre me achei parecido com o café. Até na cor. Preto. Será que o café já teve problemas com a sua própria cor? Eu já. Foi minha primeira experiência traumática na flor da idade. Me declarei pela primeira vez. Então a menina cor de pingado me disse: não gosto de preto. Estranhei. Pra mim éramos todos café. Mas alguns diziam ser puro leite.
Com o tempo o “não gosto de preto” se tornou rotineiro. Agora em tom de brincadeira. Só quem tem um tom mais escuro sabe que isso deixa um certo sabor amargo. E que depois não sai da boca e nem do coração.
Das escolas e faculdades onde passei, eu era minoria. Além de preto, nerd. Quase um café gourmet. Sabor desapreciado. Tive poucos amigos. Mais leite do que café. Amigos verdadeiros. E conforme o tempo passava, menos grão parecidos comigo eu achava no caminho.
Escolhi como profissão a comunicação. No início me achei sem vocação. Lutei. Perdi várias batalhas. Voltei a ficar de pé. Fui derrubado novamente. Não desisti. Assim como o café passa pela torra, tive meu processo de aprendizagem. A cada temperatura nesse processo fui ganhando algo novo: corpo, acidez, equilíbrio e não enche o saco você que me acha diferente. Eu sou. Aprendi na marra o que todo café tem que ser: forte.